Levantamento mostra que, nos 40 anos da Nova República, a maioria dos chefes do Executivo teve a trajetória atravessada por graves processos no Congresso ou no Judiciário.
Desde a redemocratização, em 1985, o Brasil teve oito presidentes civis, mas a estabilidade institucional foi um desafio constante. Em 40 anos, cinco desses líderes enfrentaram processos de impeachment, condenações judiciais ou chegaram a ser presos, marcando uma trajetória de crises políticas e jurídicas no comando do Palácio do Planalto.
Apenas três presidentes eleitos pelo voto direto ou que assumiram como vice concluíram seus mandatos sem sofrer condenações, prisões ou a perda do cargo: José Sarney (MDB), Itamar Franco (que morreu em 2011) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Os demais tiveram seus governos ou o período pós-Presidência diretamente afetados por investigações e julgamentos, cujas acusações vão desde corrupção e crimes fiscais até uma tentativa de golpe de Estado.
As acusações e os desfechos
A seguir, um detalhamento dos processos que marcaram a trajetória de cada um dos cinco presidentes.
Fernando Collor: do impeachment à Lava Jato.
O primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura, Fernando Collor (PRN, hoje sem partido), renunciou em 1992 para evitar a cassação em um processo de impeachment.
As acusações apontavam um esquema de corrupção operado por seu ex-tesoureiro, PC Farias, que usava o governo para cobrar propina de empresários.
Anos depois, já como senador, Collor foi condenado pelo STF em 2023 a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato, acusado de receber R$ 20 milhões em propina em contratos da BR Distribuidora.
Dilma Rousseff: o impeachment por crime fiscal.
Sucessora de Lula, Dilma Rousseff (PT) perdeu o mandato em 2016 após um processo de impeachment por crime de responsabilidade. A acusação se baseou nas chamadas “pedaladas fiscais” — atrasos propositais no repasse de verbas a bancos públicos para o pagamento de programas sociais, o que foi considerado um empréstimo ilegal ao governo — e na edição de decretos de crédito suplementar sem autorização do Congresso.
Anos depois, a Justiça Federal arquivou uma ação sobre o caso por não identificar dolo (intenção).
Lula: a prisão e a anulação pelo STF
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi condenado e preso no âmbito da Operação Lava Jato. As principais acusações, de corrupção e lavagem de dinheiro, envolviam o recebimento de um apartamento triplex no Guarujá e reformas em um sítio em Atibaia, supostamente pagos por empreiteiras em troca de contratos na Petrobras.
Após passar 580 dias preso, Lula teve suas condenações anuladas pelo STF em 2021. O tribunal entendeu que a Vara de Curitiba não tinha competência para julgar os casos e, posteriormente, declarou a parcialidade do então juiz Sergio Moro, o que restaurou os direitos políticos do petista.
Michel Temer: a prisão pós-mandato.
Vice de Dilma, Michel Temer (MDB) assumiu a presidência após o impeachment. Ao final de seu mandato, em 2019, foi preso preventivamente em um desdobramento da Lava Jato.
O Ministério Público Federal o acusou de liderar uma organização criminosa que teria negociado propinas por décadas, com um dos casos ligados a desvios nas obras da usina nuclear de Angra 3. Temer sempre negou as acusações.
Jair Bolsonaro: a condenação por tentativa de golpe.
O caso mais recente envolve Jair Bolsonaro (PL). Em setembro de 2025, a Primeira Turma do STF o condenou a 27 anos e 3 meses de prisão por um conjunto de crimes, incluindo tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Segundo a acusação, ele liderou uma trama para desacreditar o processo eleitoral e planejar uma ruptura institucional para se manter no poder após a derrota nas eleições de 2022.
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