Ibovespa tinha superado recordes e ultrapassado 153 mil pontos na quarta pré-Copom com expectativa por comunicado indicar horizonte de corte de juros, o que não aconteceu.
Com um tom mais hawkish (duro, mostrando preocupação com a inflação) no comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária) que se seguiu à decisão de manter a taxa Selic em 15% ao ano, a expectativa é de que a sessão da próxima quinta-feira (5) seja de “ressaca” para a Bolsa e para a curva de juros brasileiras.
O BC manteve a Selic como já esperado, mas pregou uma manutenção da taxa nesse nível por período bastante prolongado para atingir a meta de inflação, sem apresentar sinalização sobre possíveis cortes à frente.
Após apontar em setembro que seguiria avaliando se a manutenção desse nível de juros por período longo era capaz de arrefecer a inflação até o alvo de 3%, o BC agora ajustou o tom, indicando ter ganhado convicção de que essa estratégia levará ao cumprimento do objetivo.
Cabe ressaltar que o Ibovespa saltou 1,72%, fechou na sua 11ª alta seguida e superou os 153 mil pontos em novas máximas históricas com a expectativa de que o Copom pudesse sinalizar o início do ciclo de cortes na Selic, o que não aconteceu.
“No comunicado, ele continua dizendo que o cenário exige uma política monetária em patamar significativamente contracionista por um período bastante prolongado, sinalizando que vai continuar alto para os próximos meses”, disse Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.
Bolzan reforça que o dia foi bastante positivo porque o mercado já acreditava que o comitê sinalizaria alguma possibilidade de corte de juros no futuro.
“Então, como não veio essa sinalização, a quinta deve ser um dia de ressaca, uma pequena ressaca. O início do dia deve ser de juros futuros subindo. A Bolsa deve sofrer um pouquinho, deve ter uma realização e começar o dia mais negativo. A quarta foi muito positiva e, como não aconteceu o esperado, na quinta os mercados vão começar um pouco mais tensos”, avalia.
Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, afirmou que o comunicado praticamente elimina chances de cortes na Selic em dezembro. Para ele, a gestão de Gabriel Galípolo na presidência do Banco Central é a mais hawkish desde 2016. “Mantemos a expectativa de início de ciclo de afrouxamento monetário a partir da primeira reunião do BC de 2026”, afirmou.
A XP, por sua vez, acredita que a decisão está em consonância com seu cenário base, segundo o qual a taxa Selic atingirá 12,00% no próximo ano, após seis cortes consecutivos de 50 pontos-base a partir de março do ano que vem. “Em nossa opinião, os próximos indicadores de inflação e atividade econômica convencerão o Copom de que a política monetária restritiva está funcionando. Portanto, não é necessário que ela seja tão restritiva em 2026 quanto foi em 2025”, avalia.
Dito isso, a política fiscal expansionista e as incertezas globais podem pressionar a demanda interna, o déficit em conta corrente e a inflação ao longo de 2026. Isso pode limitar o espaço para afrouxamento monetário no próximo ano.
As possíveis sinalizações da autarquia sobre quando poderia cortar a taxa também são esperadas com ansiedade pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enquanto o juro em nível elevado resfria a economia e impacta negativamente as contas públicas às vésperas de um ano eleitoral.
Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou a atual taxa Selic como “exageradamente” restritiva e defendeu que a autoridade monetária desse ao menos uma sinalização sobre cortes à frente diante de dados melhores da inflação corrente e das expectativas.
(com Reuters)
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