Últimas sessões têm sido de aversão a risco no mercado.
A semana se encerra de forma melancólica para os mercados mundiais, com as bolsas aprofundando as perdas recentes, pressionadas por novos temores em relação à saúde financeira dos bancos regionais nos Estados Unidos.
“A preocupação ganhou força após a divulgação de suspeitas de fraudes em empréstimos vinculados a fundos imobiliários problemáticos, o que levou investidores a reduzir a exposição ao setor”, destaca a Ágora Investimentos. Entre os destaques negativos, Zions e Western Alliance estiveram no centro das quedas de ontem e já ampliam as perdas no pré-mercado desta sexta-feira.
Mas não é só a tensão com os bancos regionais que leva a uma queda recente dos mercados. Entre outros fatores de aversão ao risco que se acumulam, estão o aumento das tensões entre EUA e China, a possibilidade de uma bolha de IA e o impasse orçamentário em Washington.
Nos demais mercados, o dólar se valoriza frente às principais moedas, os juros dos Treasuries recuam, e o ouro mantém trajetória de alta. Já entre as commodities, o petróleo caminha para a terceira semana consecutiva de queda, enquanto o minério de ferro recuou 0,19% na madrugada em Dalian, cotado a US$ 108,21 por tonelada.
Para a Ágora, nesse contexto, o ambiente se mostra pouco favorável para os ativos domésticos. Nem mesmo as negociações sobre o chamado “tarifaço” —classificadas como positivas pelo chanceler Mauro Vieira após encontro com o secretário de Estado americano, Marco Rubio —parecem ser suficientes para trazer grande alívio aos mercados nacionais nesta sexta-feira, ainda que a abertura dos mercados brasileiros tenha sido de estabilidade (ante queda dos mercados internacionais).
A XP Investimentos também aponta que investidores também seguem atentos à terceira semana do shutdown, que mantém suspensa a divulgação de dados econômicos.
A paralisação do governo federal dos Estados Unidos chega a seu 17º dia. A Casa Branca disse na semana passada que havia iniciado demissões em todo o governo dos EUA, já que Trump cumpriu a ameaça de cortar a força de trabalho federal durante o shutdown.
No início da semana, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que a paralisação está começando a afetar a economia nacional. Bessent acrescentou que, para permitir o pagamento dos membros do serviço militar dos EUA, o governo está tendo que atrasar os pagamentos de outros funcionários e serviços federais em áreas como os museus Smithsonian e o Zoológico Nacional.
“Estamos tendo que reorganizar as coisas. Estamos tendo que dispensar funcionários aqui em DC e em todo o país”, disse Bessent na entrevista.
Na sessão, entre as grandes companhias, Oracle recua 3,7% após revisar suas projeções de longo prazo, e Eli Lilly e Novo Nordisk caem após Donald Trump indicar que negocia cortes de preços em medicamentos para obesidade.
Na Europa, os mercados operam em queda (Stoxx 600: -1,5%), acompanhando a aversão a risco global e a pressão sobre o setor bancário. O índice europeu de bancos (Stoxx 600 Banks) cai cerca de 3%, refletindo o impacto do temor de crédito vindo dos EUA. Jefferies e UBS estão entre as instituições mais expostas à falência da americana First Brands, com riscos de US$ 715 milhões e US$ 500 milhões, respectivamente.
O ex-presidente do BCE Jean-Claude Trichet afirmou que a situação exige cautela, mas não vê “enorme dificuldade iminente”.
Enquanto isso, as tensões comerciais entre EUA e China também seguem afetando o sentimento. Na quinta-feira, a China acusou os EUA de provocarem pânico em relação aos controles chineses sobre as terras raras, rejeitando o pedido da Casa Branca de revertê-los.
A missão da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), por sua vez, afirmou nesta sexta-feira que os Estados Unidos vêm minando o sistema de comércio multilateral baseado em regras desde que o novo governo assumiu o cargo em 2025, citando o uso repetido de políticas discriminatórias, tarifas recíprocas e sanções unilaterais que violam os compromissos da OMC.
Somado à cesta de incertezas, está o temor com uma bolha de inteligência artificial (IA). Investimentos multibilionários em inteligência artificial estão levantando preocupações sobre a formação de uma bolha que lembra a que estourou no auge das empresas pontocom nos anos 2000.
Investidores estão atentos a sinais de que a demanda pela tecnologia possa estar diminuindo ou que os investimentos maciços não estejam se pagando como o esperado.
Os mercados globais podem cair se o humor dos investidores se deteriorar com as perspectivas da inteligência artificial, disse o banco central da Inglaterra em 8 de outubro.
“O risco de uma correção acentuada do mercado aumentou”, disse o Comitê de Política Financeira do BoE em uma atualização trimestral, em seu alerta mais incisivo até o momento sobre os perigos de uma queda do mercado financeiro desencadeada pela IA. A autoridade monetária acrescentou que o risco de repercussões para o sistema financeiro do Reino Unido a partir de tal choque é “material”.
Contudo, conforme ressalta o UBS, quase o mesmo número de investidores que acham que estamos em uma bolha de IA também está mantendo seus investimentos no setor. “A maioria acha que estamos em uma bolha de IA, mas isso está longe de ser o ápice de um pico de bolha e, portanto, cerca de 90% das pessoas que disseram que estamos em uma bolha disseram que ainda estão investidas em muitas das áreas relacionadas à IA.”
(com Reuters e Estadão Conteúdo)
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